Reprodução sem fins lucrativos.
Publicada em 28/10/2011 às 08h59m
João Sorima Neto (joao.sorima@sp.oglobo.com.br)
.SÃO PAULO - Com a economia em crescimento e a falta de mão de obra especializada, o Brasil começa a assistir a uma corrida pelo treinamento de pessoas. Movimento que acontece dentro das empresas, mas também nas associações e sindicatos de trabalhadores de setores como construção civil, petróleo e gás, indústria de transformação e até no varejo. É gente que está sendo treinada para tarefas que dispensam um elevado grau de instrução. São padeiros, açougueiros, soldadores, camareiras, garçons, ceramistas, pedreiros, azulejistas, operários para linhas de produção de automóveis. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), calcula que o país tem 20 milhões de pessoas a serem treinadas para estas funções.
São brasileiros que terminaram o ensino fundamental, mas não seguiram adiante para o ensino médio e universitário. Pararam de estudar e ingressaram no mercado de trabalho em funções mais simples, como contínuo ou empacotador de supermercado.
O problema é que sobram vagas e falta gente justamente na camada intermediária, de vagas para profissionais que não têm um diploma de faculdade, mas precisam conhecer bem o ofício para conseguir atender o mercado.
- Ao receber melhor qualificação, esse grupo de brasileiros poderá evitar que o país perca competitividade e mantenha o crescimento de 4,5% nos próximos anos. Sem melhorar a qualificação desta mão-de-obra dificilmente a economia vai crescer nesse ritmo - diz o pesquisador Divonzir Gusso, do Ipea, especialista em mercado de trabalho. Na busca pela qualificação, as empresas agora estão 'encomendando' os profissionais que precisam a escolas e instituições de cursos profissionalizantes. Em Piracicaba, cidade a 168 quilômetros de São Paulo, a coreana Hyundai já começou a construir sua nova fábrica de carros no país. O Senai, uma das instituições que mais treina gente no Brasil, montou na cidade um curso que está qualificando jovens para a linha de montagem.
O treinamento foi criado na cidade exatamente para atender à unidade da Hyundai, que vai gerar 6 mil empregos quando estiver a pleno vapor. Em Rio Claro, a 174 quilômetros da capital paulista, estão instaladas 38 empresas do setor de cerâmica. É o maior polo cerâmico da América Latina, que se ressente de trabalhadores especializados. Há duas semanas, o Senai abriu na cidade uma unidade para capacitar pessoas para o setor.
- Os cursos estão sendo criados de acordo com a necessidade das empresas - explica Celso Taborda, gerente do Senai em São Paulo.
Em Minas Gerais, o presidente do Sindicato da Indústria da Panificação calcula que haja 30 mil vagas em aberto para padeiros, pizzaiolos, salgadeiros. Há parcerias com o Senai e com a prefeitura de Belo Horizonte para treinar pessoas para ocupar essas vagas. Nas cidades da região do Triângulo Mineiro há 150 vagas de açougueiro a serem preenchidas. A Associação de Supermercados do Triângulo Mineiro recorreu ao Instituto Federal do Triângulo Mineiro para treinar gente interessada nessas vagas. O salário tanto para padeiros quanto para açougueiros varia entre R$ 800 e R$ 1,2 mil.
As empresas que não fazem parcerias, estão criando seus próprios cursos. A rede de supermercados Walmart criou uma Escola Social do Varejo, que funciona no Rio Grande do Sul, São Paulo, Bahia, Pernambuco, Ceará e Alagoas. As aulas são para formar padeiros, açougueiros, peixeiros, hortifrutigranjeiros. No ano passado, passaram pelo treinamento mil alunos. Este ano, serão 1.700 jovens treinados. A escola é um projeto social que ajuda a melhorar a renda em comunidades do país, mas surgiu a partir da constatação que havia falta desses profissionais no mercado.
- Nossa meta é inserir no mercado de trabalho 80% dos alunos, não necessariamente no Walmart - diz Paulo Mindlin, diretor do Instituto Walmart.
Assim como o Walmart, nos últimos anos, pelo menos 150 empresas criaram universidades e escolas corporativas no Brasil, segundo um estudo da pesquisadora Marisa Eboli, da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo. Entre elas, a Petrobras, que treina todos os dias pelo menos mil pessoas nas unidades do Rio deJaneiro e Salvador, na Bahia. A universidade Petrobras tem cinco escolas:e no ano passado foram oferecidos 2.500 cursos técnicos para os funcionários. Como até 2015, existe a previsão de contratar 14 mil empregados, as aulas de cursos como manutenção, inspetor de equipamentos, mecânica devem continuar lotadas. Segundo a Petrobras, há dificuldade em treinar gente em uma função específica: montador de andaimes. A razão, talvez, seja o medo de altura, diz a empresa.
Nessa faixa de trabalhadores qualificação profissional significa um aumento que pode ir de 50% a 100% no salário, avaliam os sindicatos. No caso da construção civil, um setor que cresceu 80% nos últimos quatro anos e mais demandou mão-de-obra há casos de aumento entre 70% e 100% no salário para atividades como instalador hidráulico, assentador de azulejos, carpinteiro. O Sinduscom (Sindicato da Construção de São Paulo) confirma os números. Hoje, com o boom do setor, dificilmente um pedreiro ganha o piso da categoria, de R$ 1.086,00. Um assentador de azulejos chega a ganhar entre R$ 3 mil e R$ 4 mil ao mês. Um carpinteiro, que atua no mesmo setor, ganha R$ 2,2 mil.
- Só para se ter uma comparação, no passado, quando a economia do país estava estagnada, um engenheiro civil recém-formado, ganhava um salário de entrada no mercado de R$ 1,2 mil - diz o pesquisador Divonzir Gusso, do Ipea.
Publicada em 28/10/2011 às 08h59m
João Sorima Neto (joao.sorima@sp.oglobo.com.br)
.SÃO PAULO - Com a economia em crescimento e a falta de mão de obra especializada, o Brasil começa a assistir a uma corrida pelo treinamento de pessoas. Movimento que acontece dentro das empresas, mas também nas associações e sindicatos de trabalhadores de setores como construção civil, petróleo e gás, indústria de transformação e até no varejo. É gente que está sendo treinada para tarefas que dispensam um elevado grau de instrução. São padeiros, açougueiros, soldadores, camareiras, garçons, ceramistas, pedreiros, azulejistas, operários para linhas de produção de automóveis. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), calcula que o país tem 20 milhões de pessoas a serem treinadas para estas funções.
São brasileiros que terminaram o ensino fundamental, mas não seguiram adiante para o ensino médio e universitário. Pararam de estudar e ingressaram no mercado de trabalho em funções mais simples, como contínuo ou empacotador de supermercado.
O problema é que sobram vagas e falta gente justamente na camada intermediária, de vagas para profissionais que não têm um diploma de faculdade, mas precisam conhecer bem o ofício para conseguir atender o mercado.
- Ao receber melhor qualificação, esse grupo de brasileiros poderá evitar que o país perca competitividade e mantenha o crescimento de 4,5% nos próximos anos. Sem melhorar a qualificação desta mão-de-obra dificilmente a economia vai crescer nesse ritmo - diz o pesquisador Divonzir Gusso, do Ipea, especialista em mercado de trabalho. Na busca pela qualificação, as empresas agora estão 'encomendando' os profissionais que precisam a escolas e instituições de cursos profissionalizantes. Em Piracicaba, cidade a 168 quilômetros de São Paulo, a coreana Hyundai já começou a construir sua nova fábrica de carros no país. O Senai, uma das instituições que mais treina gente no Brasil, montou na cidade um curso que está qualificando jovens para a linha de montagem.
O treinamento foi criado na cidade exatamente para atender à unidade da Hyundai, que vai gerar 6 mil empregos quando estiver a pleno vapor. Em Rio Claro, a 174 quilômetros da capital paulista, estão instaladas 38 empresas do setor de cerâmica. É o maior polo cerâmico da América Latina, que se ressente de trabalhadores especializados. Há duas semanas, o Senai abriu na cidade uma unidade para capacitar pessoas para o setor.
- Os cursos estão sendo criados de acordo com a necessidade das empresas - explica Celso Taborda, gerente do Senai em São Paulo.
Em Minas Gerais, o presidente do Sindicato da Indústria da Panificação calcula que haja 30 mil vagas em aberto para padeiros, pizzaiolos, salgadeiros. Há parcerias com o Senai e com a prefeitura de Belo Horizonte para treinar pessoas para ocupar essas vagas. Nas cidades da região do Triângulo Mineiro há 150 vagas de açougueiro a serem preenchidas. A Associação de Supermercados do Triângulo Mineiro recorreu ao Instituto Federal do Triângulo Mineiro para treinar gente interessada nessas vagas. O salário tanto para padeiros quanto para açougueiros varia entre R$ 800 e R$ 1,2 mil.
As empresas que não fazem parcerias, estão criando seus próprios cursos. A rede de supermercados Walmart criou uma Escola Social do Varejo, que funciona no Rio Grande do Sul, São Paulo, Bahia, Pernambuco, Ceará e Alagoas. As aulas são para formar padeiros, açougueiros, peixeiros, hortifrutigranjeiros. No ano passado, passaram pelo treinamento mil alunos. Este ano, serão 1.700 jovens treinados. A escola é um projeto social que ajuda a melhorar a renda em comunidades do país, mas surgiu a partir da constatação que havia falta desses profissionais no mercado.
- Nossa meta é inserir no mercado de trabalho 80% dos alunos, não necessariamente no Walmart - diz Paulo Mindlin, diretor do Instituto Walmart.
Assim como o Walmart, nos últimos anos, pelo menos 150 empresas criaram universidades e escolas corporativas no Brasil, segundo um estudo da pesquisadora Marisa Eboli, da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo. Entre elas, a Petrobras, que treina todos os dias pelo menos mil pessoas nas unidades do Rio deJaneiro e Salvador, na Bahia. A universidade Petrobras tem cinco escolas:e no ano passado foram oferecidos 2.500 cursos técnicos para os funcionários. Como até 2015, existe a previsão de contratar 14 mil empregados, as aulas de cursos como manutenção, inspetor de equipamentos, mecânica devem continuar lotadas. Segundo a Petrobras, há dificuldade em treinar gente em uma função específica: montador de andaimes. A razão, talvez, seja o medo de altura, diz a empresa.
Nessa faixa de trabalhadores qualificação profissional significa um aumento que pode ir de 50% a 100% no salário, avaliam os sindicatos. No caso da construção civil, um setor que cresceu 80% nos últimos quatro anos e mais demandou mão-de-obra há casos de aumento entre 70% e 100% no salário para atividades como instalador hidráulico, assentador de azulejos, carpinteiro. O Sinduscom (Sindicato da Construção de São Paulo) confirma os números. Hoje, com o boom do setor, dificilmente um pedreiro ganha o piso da categoria, de R$ 1.086,00. Um assentador de azulejos chega a ganhar entre R$ 3 mil e R$ 4 mil ao mês. Um carpinteiro, que atua no mesmo setor, ganha R$ 2,2 mil.
- Só para se ter uma comparação, no passado, quando a economia do país estava estagnada, um engenheiro civil recém-formado, ganhava um salário de entrada no mercado de R$ 1,2 mil - diz o pesquisador Divonzir Gusso, do Ipea.
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