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Fonte.Jornal O Globo.
Publicada em 24/08/2011 às 19h56mAndré Machado (amachado@oglobo.com.br) e Rennan Setti (rennan.setti@oglobo.com.br), com agências internacionais
RIO -Em decisão histórica, Steve Jobs anunciou na noite de quarta-feira sua saída do cargo de diretor-executivo da Apple. Em licença médica desde 17 de janeiro último, Jobs trouxe à tona com sua decisão novos temores sobre seu estado de saúde - em 2004 o executivo teve um câncer no pâncreas, supostamente curado, e fez um transplante de fígado em abril de 2009.
"Eu sempre disse que se chegasse o dia em que não pudesse mais cumprir meus deveres e expectativas como diretor-executivo da Apple, eu seria o primeiro a dizer-lhes", afirmou Jobs em mensagem à diretoria da Apple. "Infelizmente, esse dia chegou. Por meio desta, renuncio ao cargo de diretor-executivo. Eu gostaria de servir, se a diretoria achar conveniente, como presidente do conselho, diretor e funcionário da Apple".
Para seu sucessor, Jobs apontou o diretor-executivo em exercício, Tim Cook, cujo nome já estaria no plano de sucessão da empresa californiana. Disse ainda acreditar que "os dias mais brilhantes e inovadores da Apple ainda estão à sua frente", e que esperava observar e contribuir para o sucesso da empresa em seu novo posto.
Com o anúncio da saída de Jobs, as ações da Apple caíram 7% após o fechamento das bolsas (o chamado after market). Compras e vendas tinham sido paralisadas antes do anúncio, por aproximadamente 25 minutos. Logo depois, os papéis caíram até US$ 20, por ação, chegando a US$ 356.
Logo após o anúncio, uma mostra da popularidade de Jobs: no Twitter, o assunto entrou para os Trending Topics (mais comentados) em menos de 20 minutos.
Desde que Jobs reassumiu a Apple, há 13 anos, a empresa viu suas ações subirem meteoricamente, multiplicando seu valor em quase cem vezes. Recentemente, a companhia tomou temporariamente da Exxon o título de mais valiosa do mundo.
Jobs fundou a Apple em 1976, com o engenheiro Steve Wozniak. Juntos, lançaram um dos primeiros computadores pessoais, o Apple II. Em 1984, surgia o primeiro dos computadores Macintosh (Mac), que formariam uma das mais influentes legiões de usuários da história da tecnologia. As MacWorlds - convenções semestrais em São Francisco e Nova York onde se anun$os lançamentos da Apple - tinham na conferência de abertura de Jobs seu ponto forte. O executivo seguia um roteiro preciso: começava com as novidades mais simples e passava às mais esperadas aos poucos, aumentando o suspense até dizer a frase "and there is one more thing" ("e tem mais uma coisa", em inglês), que prenunciava o lançamento principal. Foi assim, por exemplo, que ele lançou em 2000 o Cube, um desktop quadradinho, para uma plateia boquiaberta de macmaníacos. O computador foi descontinuado, mas o fascínio pela Apple permaneceu ao longo de vários anos de lançamentos, dos iMacs ao finíssimo MacBook Air.
Uma revolução com iPod, iPhone e iPad
Mas nem tudo foram flores na presidência inicial de Jobs na Apple. Ele ficou fora da empresa entre 1985 e 1997, período em que a Apple passou por tempos difíceis. Os lucros só voltaram em 1998, depois que Jobs reassumiu a cadeira de diretor-executivo no lugar de Gil Amelio.
Embora com a chegada da internet comercial em 1995 nem todas as grandes empresas fossem capazes de acompanhar a revolução on-line que se seguiu, a Apple, sob o comando de Jobs, se reinventou e se lançou em uma nova trilha no mundo da tecnologia ao abraçar a mobilidade. Primeiro, com o iPod, em 2001, que virou sinônimo de MP3 player; segundo, com o iPhone, em 2007, que virou de cabeça para baixo o mercado de smartphones; e terceiro, ao botar os tablets no mapa em 2010, com o iPad, o que ocasionou uma enxurrada de gadgets rivais, mas que não conseguiram lhe fazer frente até agora.
Os últimos nove anos foram particularmente lucrativos. O volume de vendas da Apple deu um salto assombroso: de US$ 5,4 bilhões em 2001 para US$ 65,2 bilhões em 2010, acumulando US$ 229 bilhões na década.
"Por liderar uma triunfal subida ao topo do mundo da tecnologia, desenvolver computadores e aparelhos que viraram a mesa do mercado e proporcionar ao seus investidores um retorno estelar, Steve Jobs é o CEO (diretor-executivo) da década", escreveu o MarketWatch.
Segundo disseram fontes ao "Wall Street Journal", Jobs continuou a se envolver com a estratégia de produtos da Apple mesmo quando estava de licença, e deve continuar a trabalhar em conjunto com Tim Cook sempre que a saúde permitir. Em março deste ano, esteve na conferência de lançamento do iPad 2, e em junho também compareceu ao evento anual de programadores da Apple. Nas duas ocasiões, Jobs estava magro e visivelmente enfraquecido.
Investidores se mostraram preocupados com o futuro da empresa. "Este foi um momento 'quando', e não um momento 'e se'", disse ao "WSJ" o diretor do fundo Thrivent, nos EUA. E Charles O' Reilly, analista da Universidade de Stanford, disse que a Apple "enfrentará um grande desafio, já que sempre foi fortíssima a influência de Jobs em sua cultura corporativa e estratégia".
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